Cuba. País incrível
de cores fortes, céu aberto, mar nostálgico, música alegre, ritmo intenso e
arte frequente. Recheada de pobreza material e riqueza de espírito, eleva-se no
Caribe esta ilha com a sua personalidade forte e carismática.
La Habana é uma
pérola onde o tempo ficou perdido algures entre edifícios imponentes em ruínas,
de escadas e corrimãos de mármore de Carrara, e Chevrolets vertiginosos, de
aspecto cuidado por fora e a cair de humidade e ferrugem por dentro.
Ao chegar, o avião
enfrentou uma tempestade tropical que provocou uma falsa aterragem, acelerando
os corações dos passageiros. Após a luta do piloto contra a intempérie, a força
humana prevaleceu – de outra forma provavelmente não estaria hoje a escrever...
Pois bem Cuba.
Preparaste então uma tempestade para me receber? Como já não me bastava a
cortina cinzenta do Inverno berlinense, decidiste pregar-me uma partida? Tens
muito sentido de humor... Bom mas agora que aqui estou, como chegar ao centro
de La Habana?
Alexey.
- Necessita de un Taxi?
Sim. Necessito e tu
pareces-me simpático. Jovem bem parecido, vinte e poucos anos e cara de quem
gosta de se divertir. Pequena e rápida negociação e já sai um pouco mais
barato. Lá vamos nós, no ‘Tiburone
Rabioso’, que é o nome do Chevrloet Bel Air do ano de 1957 e cor azul claro. A sua
aparência é boa, mas assim que entramos na autoestrada questiono-me até que
ponto é que isto foi boa ideia: o carro está na verdade a cair e tenho até
dúvidas chegue ao meu destino. Bem, o Alexey parece confiante e eu tenho pouco
a perder. Lá seguimos com o motor do pobre ‘Tiburone’
a queixar-se e a água a entrar por todos os lados – principalmente das
aberturas onde outrora havia vidros.
Alexey acelerou no carro
e nas histórias de Cuba, contando mais do que eu esperava ouvir: explicou que
por conduzir do aeroporto até ao centro da cidade cobrava mais do que se ganha
num mês trabalhando para o Estado. E falou da falta de incentivos para se
estudar. E foi falando e criticando abertamente o sistema. Eu não me pronunciei,
anuindo apenas com o que ele foi dizendo: é o seu país, por mim ele pode
criticar, mas eu não vivo ali, seria injusto criticar sem conhecimento
aprofundado. Mas surpreendeu-me muito ouvir uma critica tão aberta ao sistema.
E entre trovões e
críticas, virando na próxima à esquerda, lá chegámos à ‘casa particular’. À
partida parecia fechada. Bati. Ninguém. As portas todas fechadas – também não
admira, com este temporal... Quando já pensava que ninguém ia aparecer, uns
olhos brilhantes surgiram numa fresta entre as madeiras da janela.
Yanko.
- Hola! Perdón la estába esperando pero por un momento
fui al baño...
Ah, não tem
problema! Obrigada. Então vamos lá ver esse quarto... E o quarto estava bem. E
o Yanko recebeu-me com uma Canchanchara sonhadora. E as palavras de Martí ecoam
em mim:
‘Yo sueño con los ojos
Abiertos, y de día
Y noche siempre sueño.’
Seguiram-se dias
incríveis neste país fascinante que continuarão ‘hablando conmigo’ enquanto
memória assim mo permita.
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