Passados difíceis que nos
prometeram um fracasso redondo desde o início.
Do teu lado, um conflito
externo. Uma guerra real. Mortes, famílias separadas, busca de um lugar a que possas chamar ‘casa’ em países
estrangeiros e culturas estranhas que o teu espírito beduíno não consegue entender. Viagens forçadas, racismo e incompreensão. Tentaste cobrir tudo isso com uma camada superficial de alegria, da qual a tristeza se apodera na primeira oportunidade,
qual guardanapo de papel sobre café derramado. Viajas a sítios onde não te consigo
acompanhar.
Do meu lado, conflito
interno. Paz aparente, estabilidade fingida, edifício de dez andares construído sobre
alicerces de vidro – um destes dias vai quebrar. E como se não fosse suficiente, houve ainda um prenúncio devastador: quando comecei a acreditar em nós, tive o infortúnio de, por mera coincidência, reencontrar o meu demónio do
passado. Histórias demasiado pesadas para partilhar que bloqueiam todos os caminhos para verdadeiramente chegar a mim. A
todos.
Não falamos a mesma
língua. Não temos pontos culturais comuns. Temos uma diferença de idade que
apenas constitui mais um ‘não’. Acreditas mesmo que vale a pena perdermos tempo? O nosso tempo?
Escrevo estas palavras com uma sensação de peso
no estômago. Sinto o esófago quente. As amígdalas parecem contrair-se ligeiramente na
garganta, provocando o que seria talvez equivalente ao momento que antecede o
vómito. Os meus olhos ameaçam aguaceiros fortes. Tenho uma sensação de dormência difícil de definir, não
se sei bem se no esplénio da cabeça ou em qualquer outro músculo da alma. Creio que os teus beijos deixaram um final de boca amargo no meu pensamento.
Mas é apenas mais um. Fiquemos
por aqui. Depois de tudo o que passámos, também não é o fim do mundo, pois não?
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