segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Ouriça Phoenix

Percorrendo longos caminhos, a pequena ouriça foi correndo, correndo, correndo. Caminhos largos, caminhos sinuosos, estradas abertas de paisagens deslumbrantes, ruelas de bairros com cheiro a esgoto. A ouriça percorreu muitos locais no mundo, visitou muitas terras numa sede de conhecer outras culturas, outras gentes, outros costumes. Encontrou amigos e inimigos, amou e odiou. Percebeu que no mundo tudo é relativo e que a nossa forma de pensar é apenas a nossa forma de pensar.

E entre estórias que a enriqueceram e estórias que a empobreceram, um dia, surgiu um demónio que a atacou violentamente. A ouriça lutou como lhe foi possível, ora agitando os seus pequenos bracitos, ora fechando-se numa bola de picos numa luta desiquilibrada. O demónio, com a sua fúria mitológica e uma força desumana, feriu-a irremediavelmente, desferindo um golpe que nunca iria sarar. Ela sabia. Perante olhares esgazeados, a ouriça ardeu então num mar de chamas que ninguém conseguiu parar. Irrelevantes cinzas e picos perderam-se no tempo durante longos anos num Inverno triste.

Até que uma noite, subitamente, cinzas e picos começam a brilhar, primeiro timidamente e depois irradiando uma luz sem igual, ergendo-se do chão poeirento. Uma sombra eleva-se. A ouriça surge ergendo os braços e abrindo os olhos lentamente.

De volta.