segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Carta para... "Para Alguém"

“ Queria escrever-te, mas uma pequena SMS não consegue estancar a fluidez de tudo isto…”. Qual seiva, a inspiração percorre o meu corpo provocando-me uma ténue levitação no espírito, que se eleva, equilibrando-se em sinopses para espreitar além do muro que rodeia o espaço do sonho.

“Estou no meu cantinho do mundo, aqueles m2 que por mais que percorra, são meus (ainda que a via pública não me pertença por direito…)!” É daqui que te escrevo. Da Avenida, o lugar onde pertenço. Não preciso de um papel que me entregue este chão, porque é meu e teu e de todos… A Terra não pertence a ninguém, passo a citar o velho índio Seattle, quando em 1855, escreveu uma carta lá para os lados das Américas (onde te encontras neste momento): "Como podeis comprar ou vender o céu, o calor da Terra? A ideia não tem sentido para nós. Se não somos donos da frescura do ar ou o brilho das águas, como podeis querer comprá-los?". É por isso que este cantinho é meu. E de todos. Assim como o são, todos os cantos do Mundo que desejava conhecer.

“Escrevo-te cartas que não vais ler… Inevitável hábito de segredar ao papel, em primeira mão, o que na verdade queria dizer aos outros”. Impossível de evitar. É como se a caneta (ou neste caso o teclado) se apoderasse das minhas mãos, provocando-me um debitar de palavras que procura acompanhar o ritmo galopante das ideias. Por vezes sou escrava do pensamento e da linguagem do papel, não conseguindo um pouco de paz enquanto não concretizar o vício. Hoje é um desses dias. Acontece-me amiúde, para falar com franqueza. Porém raramente permito que os resultados transpareçam para o exterior. O grande problema é que assim, apenas o meu pequeno Moleskine está a par da minha pessoa. E nem isso, dada a sua natureza inanimada. É desta forma que, a maior parte do que escrevo, habita apenas em mim, embora no fundo, gostasse muito de partilhar. Reencontrar-te, avivou-me ainda mais a vontade de gritar ao mundo. Esta já iniciou a sua germinação há muito, aproximando-se cada vez mais da superfície e começando a despontar no momento em que a Ouriça saiu da toca.

Cantas exprimindo o que sentes. Possivelmente até à exaustão, muitas vezes. Até que os poemas perdem o significado e tens de reler como quem lê pela primeira vez, para que o que escreves possa voltar a ser parte de ti. Eu, contrariamente, escrevo e guardo só para mim. Até que os papéis se difundem entre tantos, até que me esqueço do que tinha para dizer. Quando encontro releio. Só para não perder aqueles fragmentos de vivências que gosto de guardar.

“Será um curioso antagonismo entre nós? Talvez não, talvez as nossas amplitudes somadas até dêem um ângulo recto.”