terça-feira, 23 de junho de 2009

Saída da Toca

A Ouriça decide finalmente pôr a sua cabeça fora da toca, espreitando o que a rodeia numa desconfiança curiosa, fundamentada em argumentos válidos, apresentados por personagens variadas, nos mais diversos contextos. Sente uma enorme vontade de mostrar um pouco do seu mundo ao mundo.

Espreita por entre as ervas e cogumelos que crescem aqui e ali pontualmente, formando padrões atípicos, tão típicos na natureza. O céu, de um cinzento tenebroso e melancólico de fim de tarde invernosa, intimida-a. Uma gota de água fria cai-lhe em cheio na ponta do nariz rosado, arrepiando os seus picos que se eriçam, sem pudor, em todas as direcções. Receosa e hesitante, encolhe-se de novo no calor confortável da sua toca. Um trovão ribombante e cavo ecoa então num repente, anunciado por um relâmpago que rasga o céu com todas as suas forças. O sobressalto da Ouriça materializa-se num pequeno salto recuante e num pensamento rápido: Isto está agreste. No entanto, decide finalmente sair, cada vez mais confiante.

Começa então a ensaiar pequenos passos de uma dança tímida, sob o olhar de um céu reprovador, que insiste em chorar sobre os seus picos. Mergulha numa alegria bela e hipnótica. Os passos, anteriormente tímidos, transformam-se numa dança crescente. Na atmosfera húmida e melancólica, onde pairam notas de jazz inventadas por grilos, agita os seus bracitos inocentes e saltitando, gira sobre si mesma. Cansada, esboça finalmente um sorriso e por fim atira-se para as ervas rasteiras, que a recebem de folhas abertas, num contemplar enternecido da copa frondosa que se encontra sobre si. Vamos lá então reflectir um bocado...