terça-feira, 12 de setembro de 2017

Silk road não é suave...



A primeira vez que ouvi falar do Silk Road foi em 2013. Amigos meus falaram-me do quão fácil era comprar drogas online através do ‘dark side’ da Internet, utilizando o Tor para tornar o IP anónimo e Bitcoins para efectuar pagamentos. Na altura, o valor da bitcoin estava em cerca de 500€. Lembro-me de ter pensado que o valor desta moeda virtual era elevadíssimo (em Agosto deste ano, 2017, atingiu aproximadamente 3500€) e que todos estes conceitos eram simultaneamente abstractos, estranhos e fascinantes. 

No decorrer do ano de 2013, soube que o criador do Silk Road, Ross Ulbricht, tinha sido detido e que o site tinha sido encerrado. Fiquei ainda a saber que ele tinha sido apanhado onde vivia, São Francisco, para onde se tinha mudado em 2011 (pergunto-me se ele não teria estado presente numa certa festa onde eu estive...). Fiquei admirada por o terem apanhado nessa cidade: de todos os lugares, esse seria talvez, por ser tão óbvio, onde menos esperaria que ele estivesse.

Hoje vi um documentário da BBC e fiquei a saber um pouco mais sobre o Ross. Tem a minha idade (nasceu a 27 de Março de 1984) e está condenado a prisão perpétua sem possibilidade de recorrer. Tem  33 anos e está condenado a ficar para sempre preso - o resto da sua vida... Faz-me muita confusão e parece-me extremamente cruel.

A questão é que na minha perspectiva, ele não foi preso por ser um criminoso, mas por ter levantado uma questão inconveniente. Ele levou os seus ideais à acção talvez de uma forma algo naïf, já que no início não creio que se tivesse apercebido da dimensão daquilo que estava a criar - tanto que aparentemente reagiu com surpresa quando viu o Silk Road na imprensa pela primeira vez e usou o termo ‘épico’ para descrever o que se estava a passar. Ele utilizou ferramentas que estão acessíveis a todos para criar um portal para um mundo paralelo. Para mim, os verdadeiros motivos para ele ter sido condenado a uma pena tão pesada são realmente o facto de ser politicamente perigoso, de ter demonstrado ser possível agir à margem do sistema e, mais que isso, ter demonstrado que isso está ao alcance de todos. A ideia é extrapolável, não se finda no submundo que ele criou. 

A sua proposta de que as drogas deveriam estar acessíveis a quem as quiser tomar e que as transacções deveriam ser efectuadas de uma forma transparente e não violenta, desafia os sistemas políticos actuais.

O ser humano desde sempre procurou drogas. E o termo ‘drogas’ aqui pode ser utilizado de uma forma mais abrangente para referir mais que apenas substâncias: o ser humano sempre procurou algo que o ajude a atenuar emoções e/ou sensações que o incomodem, algo que aumente a sua sensação de bem-estar e que lhe permita de alguma forma uma sensação mística. No fundo algo que lhe permita, mesmo que por apenas uns momentos, alienar a dor da sua existência. Sejamos realistas.

Imagine-se que as drogas eram legalizadas: os recursos necessários para combater o crime gerado pelo tráfico poderiam ser investidos noutro tipo de aplicações. Por exemplo, na investigação de o que faz a humanidade verdadeiramente feliz, em educação e também nos efeitos que as drogas – verdadeiramente – têm na saúde humana, já que sobre isto, sabemos muito pouco. Não seria um melhor caminho ter uma sociedade informada e capaz de decidir por si aquilo que deseja fazer?

Além disso, se considerarmos por exemplo o álcool e o tabaco, estamos perante duas das drogas que mais danos físicos e maior dependência causam. E estas são legais. Porquê? Mesmo quando já existem tantos estudos e já nem a própria indústria pode negar os efeitos nocivos que têm no corpo, estas duas drogas continuam a ser legais e o seu consumo excessivo não só é aceite, como promovido pela sociedade. Todos o sabemos. Qual é então a lógica de estas drogas serem legais e as outras não? Se a ideia fosse proibir, não seria então mais coerente proibir todas as drogas? Ou pelo menos as mais nocivas?

Vivemos alienados. Todos os dias lemos notícias contraditórias sobre ‘o que faz bem e mal à saúde’. A verdade é que sabemos muito pouco sobre o nosso corpo e a nossa mente e não existem estudos independentes, há sempre interesses envolvidos. No meio de tanta informação contraditória, resta-nos apenas tentar ir juntando as peças do puzzle e fazer aquilo com que nos sentimos melhor.

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