Alguém colocou moedas na velha juke-box alterando assim a música: "They made a statue of us, And put it on a mountain top". Ao fundo vislumbro uma sombra que não compreendo. Chamo o empregado. Chegue aqui, por favor. O empregado vem com um sorriso sovina. Precisa de alguma coisa? Ironiza em puro esgar mefistofélico. Preciso, respondo sem tirar os olhos da sombra. Preciso que te sentes um pouco aqui comigo e que por um momento me deixes contar-te o que se passa. Preciso de racionalizar, desmontar, desmascarar, desenterrar e desconstruir até obter alguma clareza. Achas que te podes sentar? Ele olha para mim num misto de surpresa e desprezo. Não, desculpe, não me poderei sentar. De momento tenho muitos clientes.
A sala está vazia. Aqui dentro apenas reside angústia, um holograma, um vulto difuso e eu. Peço então gentilmente ao vulto que opte por se retirar ou, no caso de premente inevitabilidade da sua presença, que adquira contornos mais concretos, apenas porque não o compreendo ali, naquela forma. Peço à angústia que se dissolva porque, sejamos razoáveis, por favor: não faz sentido a sua materialização em contínuos socos no estômago. E por fim, respirando fundo, não tanto para encher os pulmões, mas sim para me encher de paciência, peço ao holograma que fique, que por favor não se vá embora. Contudo, o holograma esvoaça, escapando-se já para o parapeito da janela, onde saltita agora alegremente. A angústia mantém-se sob a forma de punho cerrado. E aquele vulto... Aquele misterioso vulto permanece difuso no seu canto, tentando a cada sonho expandir-se e ocupar toda a sala, em silenciosa orgia com a angústia. E eu... E eu permaneço sentada na minha mesa vazia, procurando sorver a paz e trincar as melhores respostas entre todas as incertezas, enquanto aguardo a Primavera, cigarro após cigarro...