quarta-feira, 14 de junho de 2017

‘Habla conmigo Habana’



Cuba. País incrível de cores fortes, céu aberto, mar nostálgico, música alegre, ritmo intenso e arte frequente. Recheada de pobreza material e riqueza de espírito, eleva-se no Caribe esta ilha com a sua personalidade forte e carismática. 

La Habana é uma pérola onde o tempo ficou perdido algures entre edifícios imponentes em ruínas, de escadas e corrimãos de mármore de Carrara, e Chevrolets vertiginosos, de aspecto cuidado por fora e a cair de humidade e ferrugem por dentro. 

Ao chegar, o avião enfrentou uma tempestade tropical que provocou uma falsa aterragem, acelerando os corações dos passageiros. Após a luta do piloto contra a intempérie, a força humana prevaleceu – de outra forma provavelmente não estaria hoje a escrever...

Pois bem Cuba. Preparaste então uma tempestade para me receber? Como já não me bastava a cortina cinzenta do Inverno berlinense, decidiste pregar-me uma partida? Tens muito sentido de humor... Bom mas agora que aqui estou, como chegar ao centro de La Habana?

Alexey.

- Necessita de un Taxi?

Sim. Necessito e tu pareces-me simpático. Jovem bem parecido, vinte e poucos anos e cara de quem gosta de se divertir. Pequena e rápida negociação e já sai um pouco mais barato. Lá vamos nós, no ‘Tiburone Rabioso’, que é o nome do Chevrloet Bel Air do ano de 1957 e cor azul claro. A sua aparência é boa, mas assim que entramos na autoestrada questiono-me até que ponto é que isto foi boa ideia: o carro está na verdade a cair e tenho até dúvidas chegue ao meu destino. Bem, o Alexey parece confiante e eu tenho pouco a perder. Lá seguimos com o motor do pobre ‘Tiburone’ a queixar-se e a água a entrar por todos os lados – principalmente das aberturas onde outrora havia vidros. 

Alexey acelerou no carro e nas histórias de Cuba, contando mais do que eu esperava ouvir: explicou que por conduzir do aeroporto até ao centro da cidade cobrava mais do que se ganha num mês trabalhando para o Estado. E falou da falta de incentivos para se estudar. E foi falando e criticando abertamente o sistema. Eu não me pronunciei, anuindo apenas com o que ele foi dizendo: é o seu país, por mim ele pode criticar, mas eu não vivo ali, seria injusto criticar sem conhecimento aprofundado. Mas surpreendeu-me muito ouvir uma critica tão aberta ao sistema.

E entre trovões e críticas, virando na próxima à esquerda, lá chegámos à ‘casa particular’. À partida parecia fechada. Bati. Ninguém. As portas todas fechadas – também não admira, com este temporal... Quando já pensava que ninguém ia aparecer, uns olhos brilhantes surgiram numa fresta entre as madeiras da janela.

Yanko.

- Hola! Perdón la estába esperando pero por un momento fui al baño...

Ah, não tem problema! Obrigada. Então vamos lá ver esse quarto... E o quarto estava bem. E o Yanko recebeu-me com uma Canchanchara sonhadora. E as palavras de Martí ecoam em mim:

‘Yo sueño con los ojos
Abiertos, y de día
Y noche siempre sueño.’

Seguiram-se dias incríveis neste país fascinante que continuarão ‘hablando conmigo’ enquanto  memória assim mo permita.  

Sem comentários: