sábado, 17 de junho de 2017

Fim do mundo



Passados difíceis que nos prometeram um fracasso redondo desde o início.

Do teu lado, um conflito externo. Uma guerra real. Mortes, famílias separadas, busca de um lugar a que possas chamar ‘casa’ em países estrangeiros e culturas estranhas que o teu espírito beduíno não consegue entender. Viagens forçadas, racismo e incompreensão. Tentaste cobrir tudo isso com uma camada superficial de alegria, da qual a tristeza se apodera na primeira oportunidade, qual guardanapo de papel sobre café derramado. Viajas a sítios onde não te consigo acompanhar.

Do meu lado, conflito interno. Paz aparente, estabilidade fingida, edifício de dez andares construído sobre alicerces de vidro – um destes dias vai quebrar. E como se não fosse suficiente, houve ainda um prenúncio devastador: quando comecei a acreditar em nós, tive o infortúnio de, por mera coincidência, reencontrar o meu demónio do passado. Histórias demasiado pesadas para partilhar que bloqueiam todos os caminhos para verdadeiramente chegar a mim. A todos.

Não falamos a mesma língua. Não temos pontos culturais comuns. Temos uma diferença de idade que apenas constitui mais um ‘não’. Acreditas mesmo que vale a pena perdermos tempo? O nosso tempo?

Escrevo estas palavras com uma sensação de peso no estômago. Sinto o esófago quente. As amígdalas parecem contrair-se ligeiramente na garganta, provocando o que seria talvez equivalente ao momento que antecede o vómito. Os meus olhos ameaçam aguaceiros fortes. Tenho uma sensação de dormência difícil de definir, não se sei bem se no esplénio da cabeça ou em qualquer outro músculo da alma. Creio que os teus beijos deixaram um final de boca amargo no meu pensamento.

Mas é apenas mais um. Fiquemos por aqui. Depois de tudo o que passámos, também não é o fim do mundo, pois não?

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